sexta-feira, 20 de maio de 2011

Tô doente...


-Doutor, estou com taquicardia e sinto calafrios pelo corpo.
-Isso acontece sempre?
-Não, só em alguns momentos.
-E quais são as ocasiões?
-Antigamente, era toda vez que o celular tocava.
-Certo. Demorava para passar?
-Passava rápido. Eu tomava os remédios com certa frequência.
-E por que você parou com eles?
-Minha fonte secou.
-A fonte secou?
-Eu era viciada, estou em reabilitação.
-Viciada??
-Sim, meu vício não era ilícito. Mas é uma droga.
-E quais eram os seus vicíos?
-Eu era viciada naquele sorriso. Naqueles olhos...
-E o que aconteceu?
-A endorfina e a dopamina foram embora. Procurei usar um genérico, até mesmo um similar, mas não fizeram o mesmo efeito.
-Foram embora? Mas como isso é possível?
-Numa noite de sexta feira cinzenta. Tempo abafado. Primavera. Lembro-me com tristeza daquele dia. A partir de então, entrei em crise. Crise de abstinência.
-Tudo bem. Mas ainda não entendi tudo isso.
-Doutor, quando ele foi embora, perdi minha alegria.
-Diagnóstico: paixonite aguda do miocardio. Isso é muito comum.
-Não é doutor. Eu ainda não superei.
-E por que você sua crise voltou?
-Tive uma recaída. Foi apenas uma dose.
-Recentemente?
-Ano novo, velhos hábitos.
-Tentou fazer terapia?
-Comecei semana passada.
-Gostou?
-Prefiro o meu diário.
(...)
-E como os sintomas passam hoje em dia?
-Música. Antigamente, uma dose de sorrisos ou até mesmo algumas palavras me ajudavam. Mas foi como eu disse, doutor... minha fonte foi pra outro lugar... longe de mim. Às vezes eu procuro algum resquício, mas só consigo diálogos vazios.
-Há quanto tempo está assim?
-Verão. Outono. Inverno. Primavera. Verão...
-Ahh... amor não correspondido?
-Sim.

Aline Machado

Oração.




"essa é a última oração pra salvar seu coração. Coração não é tão simples quanto pensa, nele cabe o que não cabe na dispensa, cabe o meu amor, cabem três vidas inteiras, cabe uma penteadeira, cabe nós dois e cabe até o meu amor..."

A banda Mais Bonita da Cidade

Do que não nos coube.


Saudade eu tenho do que não nos coube.
Lamento apenas o desconhecimento
daquilo que não deu tempo de repartir,
você não saboreou meu suor,
eu não lhe provei as lágrimas.
É no líquido que somos desvendados.
No gosto das coisas o amor se reconhece.
O meu pior e o seu melhor,
ficaram sem ser apresentados.

Martha Medeiros

Sumi...


“Sumi porque só faço besteira em sua presença, fico mudo quando deveria verbalizar, digo um absurdo atrás do outro quando melhor seria silenciar, faço brincadeiras de mau gosto e sofro antes, durante e depois de te encontrar. Sumi porque não há futuro e isso não é o mais difícil de lidar, pior é não ter presente e o passado ser mais fluido que o ar. Sumi porque não há o que se possa resgatar, meu sumiço é covarde mas atento, meio fajuto meio autêntico, sumi porque sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco e sapiência, pareço desinteressado, mas sumi para estar para sempre do seu lado, a saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua desajeitada e irrefletida permanência.”

Martha Medeiros

Faz de conta que eu não sofro...


Digo que perdôo, ofereço cafezinho, lembro dos bons momentos, digo que os ruins ficaram no passado, que já não lembro de nada, pessoas maduras sabem que toda mágoa é peso morto: faz de conta que eu não sofro.”


Martha Medeiros